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18 setembro, 2013

Obrigada pelos bons tempos



    Obrigada pelas cervejas divididas nos bares de esquina que você me levava. E pelas noites nos motéis baratos em que me abraçava e jurava que nunca iria partir. Obrigada pelos rolês errados e pelas noites certeiras em que nós não fazíamos nada, mas parecíamos mais felizes do que qualquer outro dia. Obrigada por te me apresentado seus amigos e ter me deixado fazer parte da sua vida mesmo quando você já sabia, no fundo, que eu não duraria muito tempo.

   Obrigada por ter me feito sentir especial. Por ter aumentado meu ego. Por ter me acompanhado nos jantares de família, nos aniversários dos meus amigos e nas datas comemorativas que diziam que você deveria me amar. Obrigada pelas flores, mesmo que elas tenham morrido junto com todas as suas juras de um futuro que nunca chegou. Obrigada pelo amor que você nunca me deu de verdade.

    Obrigada pelas risadas. Pelas tardes de domingo na sua casa, pelas segundas-feiras em que ficamos deitados no meu sofá. Obrigada pelos planos que não deram certo e pelas noites sem planos que acabaram na sua cama. Obrigada por ter me levado às alturas e por ter me jogado no chão sem paraquedas ou cama elástica lá embaixo.

    Obrigada pelas pingas que me deu para experimentar. Pelos jogos de futebol que me fez assistir. E pelas peças de teatro que me levou. Obrigada pelo show da minha banda preferida. Por ter me aguentado gritando e desejando aquele homem em cima do palco mil vezes mais bonito do que você. E obrigada por ter me feito acreditar que não importava que ele tivesse mais beleza, você ainda era melhor que ele. (Quando, na verdade, não era).

    Obrigada por ter cuidado de mim nos meus porres. Por ter me levado ao hospital por causa de qualquer gripe besta. E por ter entendido meu mau humor na TPM. Obrigada pelos remédios de cólica que comprou, sabendo como eu sofria com tudo isso. E obrigada por ter se importado quando eu quase morri do coração achando que tinha engravidado.

    Obrigada por ter sido o melhor pior namorado do mundo. Por ter fingido tão bem, a ponto de me fazer imaginar uma vida toda ao seu lado, com cachorros, filhos e uma casa com churrasqueira. Obrigada por ter tentado, mesmo enquanto seu íntimo te pedia para correr e buscar qualquer outra coisa (ou pessoa) que não fosse eu. Obrigada por ter tentado fazer as coisas da melhor forma, mesmo que você tenha acabado da pior forma possível. Obrigada por ter me traído.

    Obrigada por ter pedido desculpas. E por ter mentido dizendo que se importava com o meu coração partido. Obrigada por ter dito que não havia outra pessoa. E obrigada também por ter desfilado com ela tão cedo por aí. Obrigada por ter me ensinado um pouco mais sobre o amor e, ainda mais, sobre o desamor. Obrigada por ter ficado e, principalmente, por ter ido. Te agradeço mesmo, do fundo do meu coração, por ter batido a porta e me deixado destroçada entre os pedaços do nosso passado. Porque ainda que tenha doído, você me fez o favor de me arrancar da ilusão de algo que nunca foi. Então, amor, obrigada. Pelo gran finale dos nossos bons tempos: ter me livrado de você


Texto escrito pela colunista Érica Maria

11 setembro, 2013

Tem lugar para você



Não sei se o mundo é bom
Mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou:

Tem lugar pra mim?
(Espatódea - Nando Reis)



    Você pode ficar no sofá. Foi a primeira coisa que eu disse quando você chegou de mala e cuia, sem planos e sem luz no fim do túnel. Pode se ajeitar ali, cabe mais um. Eu deveria saber que você não era dessas pessoas que exigem pouco. Seus olhos diziam isso, nos dias que passaram, enquanto eu me apaixonava mais e mais. Você queria tudo. E então, quando você deveria ir, a palavra fugiu dos meus lábios sem que meu cérebro pudesse analisar o que aquele pedido significaria e eu disse: fica.

    Fica porque eu gostei da sensação de ter para quem voltar. Porque seu rosto se ilumina quando eu abro a porta e chego do trabalho. E o mundo fica menos insuportável quando eu vejo seu sorriso de alívio por não ter mais que se preocupar comigo do lado de fora da porta. Fica porque você foi meu melhor amigo durante anos e isso deve ter lá seu valor em um relacionamento como o nosso. E ninguém no mundo, hoje, me conhece melhor do que você.

    Fica porque eu nunca me joguei tanto assim em uma história sem futuro. Nem nunca fiquei sem medo de me arriscar e pedir para alguém ficar. Fica porque você me traz paz. E para alguém que cresceu em meio ao caos um pouco de calma é sempre válido. Fica porque eu sei que eu represento um pouco de tudo isso para você também. Não é?

    Ou fica por ficar. Fica porque depois de você o resto perdeu o sentido. E eu não sei mais como era encarar a vida na solidão desesperada de quem não tem um colo para voltar. Fica. Eu juro que eu vou fazer de tudo para não te perder. Mas fica. Porque, hoje eu sei, meu mundo não teria razão se não fosse...você.



(E você ficou).

06 setembro, 2013

Processo de Criação de um Blog

Primeiro, nasce a ideia.


Linda e entusiasmada, ela se alastra pela alma do pobre mortal; e o cara percebe que só vai voltar a ser feliz no dia em que tirar a ideia do papel. E assim um bebê blog vem a mundo.


Depois vem o entusiasmo.


São os primeiros passos do blog; o blogueiro sente vontade fazer umas cinquenta postagens por dia. Visita todos os blogs possíveis, comentando e divulgando o seu espaço. Procura mil parcerias e checa todos os dias sua caixa de e-mail à procura de respostas. E faz uma festa a cada novo comentário para suas postagens.


Chegam os primeiros sucessos.


Nesse momento, as parcerias começam a aparecer. O número de comentários e de visualizações diárias crescem, e quando o blogueiro vê, o blog alcançou um número de seguidores que ele só esperava alcançar dali a alguns meses. Os livros para resenha começam a chegar na caixinha de correios e o nome do blog começa a ser lembrado na blogosfera.


Então surge a precaução.


O blogueiro começa a perceber que o blog tem um público e que, consequentemente, está sujeito a críticas e avaliações. O blog necessita, portanto, de apresentar um conteúdo de qualidade e de interesse geral. Dá-se importância agora à visibilidade individual de cada postagem. Aos poucos, o blog ganha uma programação, com quadros e colunas fixas. Passa a colocar um espaço de tempo mais alternado entre os posts, que vão de um a três dias. E, nessa busca pela qualidade e pelo interesse, surge um probleminha.


Some a inspiração.


O que no início era descompromissado agora se tornou sério. Mas... o que ele pode escrever de interessante? Sobre o que ele deve falar? Sobre qual livro ou filme deve resenhar? E, poxa, o que fazer quando o texto não sai tão bom assim? São momentos escuros...



Vem o desânimo.



Essa é a parte mais difícil. Sem ideias e, às vezes, sem tempo (oh sim, agora surge tudo para atrapalhar: aulas, trabalho...), o blogueiro começa a abrir cada vez menos a página inicial do Blogger. Faz projetos de posts, mas não sai do papel... As postagens começam a ser semanais... Até a vontade de visitar os blogs amigos fica ofuscada. E é nesse momento que muitos abandonam o blog. É o primeiríssimo - e fatalíssimo - período das trevas.

E depois...


Depois ele percebe que só há duas escolhas: ou para ou continua. Parar seria um alívio, afinal, conduzir um blog requer muito compromisso. Mas continuar seria um prazer maior ainda: teria um espaço onde colocaria suas ideias, teria o seu público e falaria das coisas que mais gosta no mundo. Então a decisão é tomada.


E acaba a infância.


Tudo mudou agora. A consciência do blogueiro é outra; ele agora cresceu. Se ele decidiu parar, cresceu o suficiente para perceber que não dava mais conta. Se ele decidiu continuar, cresceu o suficiente para saber que, com lutas e conquistas, altos e baixos, a vida na blogosfera é uma boa e agradável aventura.



    É, gente, não é nenhum segredo que estou passando agora pela fase do desânimo. Sem ideias, quase pensei em parar tudo por aqui. Mas então percebi que, poxa, também não é assim.
    Nem tudo tem que ser sério, seriísimo. As coisas são mais fáceis quando feitas de modo descontraído, descompromissado. E, no mais, se o blog ficar ruim... Bem, para cada blog ruim, há dois outros bons, rsrsrs. A blogosfera é um universo bem equilibrado.
     Eu tô tentando crescer, sair da infância. Mas nenhuma criança deixa de ser criança só porque quer, isso quem faz é o tempo... Então, hehe, é meio difícil.
    Mas como eu tenho vontade de continuar tudo isso, é isso aí, resolvi continuar. Nem que eu tenha que fazer postagens anuais (tá bom, foi uma bincadeira), eu vou arriscar, quem sabe eu pego o Tom e tudo dá certo... 

por Diego B. Oliveira
 

04 setembro, 2013

A nossa hora



    Seus olhos nunca mais encontraram os meus. Você está ocupada demais fugindo de mim como o diabo foge da cruz – olha o prato, vê se ninguém fala contigo no celular, olha o relógio e vê se já deu a hora. Dá meia volta, me engana, diz que só quer saber se já são nove horas, se a novela já vai começar. Eu enrolo, continuo comendo, mastigo devagar, tudo para não ter que contar que sei muito bem que você só quer saber se a hora que deu foi a nossa.



    Já deu nossa hora. Mas você tem medo de admitir e eu tenho preguiça demais para falar em voz alta também. E então espero você andar de um lado para o outro da cozinha, enquanto corre os olhos de cinco em cinco segundos para o relógio. Daqui a meia hora vai ter acabado de vez. Daqui a meia hora eu vou ter falado alguma palavra muito errada ou cometido um pecado muito grave. Daqui a meia hora você vai chorar e jurar que queria que tivesse sido para sempre.



    Você vai dizer que tentou de tudo. E eu vou dizer que a gente devia tentar um pouco mais. Mas nem devia. Eu também não tenho mais força pra te convencer que você é a mulher da minha vida. Nem mais a certeza de que você é ela mesmo. Um dia, eu pensei em me casar com você e passar o resto da vida ao seu lado. Mas aquela mulher com quem eu sonhei o meu futuro não parece em nada com o rosto vazio que eu encaro agora.


    Eu tento pensar como foi que nós terminamos assim. Nós costumávamos nos amar tanto. Eu passaria horas ao seu lado, sem dizer uma palavra, amando o seu silêncio. Agora, essa ausência de palavras me desespera. Tenho a impressão, a todo momento, de que você vai começar a gritar e a apontar todos os meus defeitos, feito alguém que nunca me amou mesmo sabendo de todos eles. Tenho a impressão de que a qualquer momento eu também vou levantar meu dedo e apontar os seus.



    Bom, não precisa gritar, quebrar nenhum prato, nem jogar na minha cara como nós não demos certo. Pode olhar o relógio o tempo que quiser, pode ficar assistindo a nossa hora chegar. Daqui a menos de meia hora, você vai ter passado de grande amor da minha vida a mera desconhecida. Não vou impedir nada, não vou brigar, não vou querer te convencer que poderíamos ter sido tudo. Tenho a impressão de que o que nós poderíamos ter sido nós fomos. E o que não fomos? Felizes para sempre.

Texto escrito pela colunista Érica Maria